Apesar de ser um mercado predominantemente masculino, a atividade portuária vem ganhando mais adeptas mulheres, com um número cada vez maior de profissionais do sexo feminino atuando em diversas áreas, não apenas no setor administrativo como também técnico e operacional. Atualmente, 79 mulheres integram o quadro de colaboradores da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), nas mais variadas funções. Nas instalações portuárias propriamente ditas, a força de trabalho feminina ainda é pequena, mas não menos significativa: o Porto de Paranaguá conta com duas mulheres conferentes de carga, em um universo de 1,8 mil homens.
Já no Ogmo Paranaguá - Órgão de Gestão de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto de Paranaguá, são 15 mulheres exercendo atividades cruciais para o bom funcionamento do maior porto graneleiro da América Latina, o que corresponde a 35% do total de cargos. Dos 11 cargos de chefia do Ogmo Paranaguá, quatro são ocupados por mulheres, um total de 36% de liderança feminina. O Conselho de Diretores da entidade também ganhou, pela primeira vez na história, representatividade feminina, com a participação da Gerente de RH e Qualidade da TCP Terminal de Contêineres de Paranaguá, Thais Marques.
Marggie Morita, 55 anos, é uma dessas mulheres. Há 26 anos à frente do setor de Tecnologia da Informação do Ogmo Paranaguá, Marggie é também pioneira em sua área de atuação, a Programação, nicho da Informática onde, até nos dias de hoje, é difícil encontrar mulheres em posições de comando. Apesar de ser uma entre poucas, Marggie diz nunca ter se sentido vítima de preconceito no trabalho por ser mulher, mas reconhece que a presença feminina na área de TI, especialmente de Programação, poderia ser bem maior. “Acredito que o maior desafio para a mulher profissional de qualquer área é encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. Muitas vezes, nossas maiores conquistas profissionais acontecem ao mesmo tempo que nossos desafios pessoais mais difíceis. É um dilema diário, que só conseguimos vencer com a ajuda de uma rede de apoio”, analisa.
Há cinco anos, a assistente operacional Jamile Gomes Nunes, 31, encarou o desafio de ser a primeira mulher transferida da área administrativa do Ogmo Paranaguá para atuar diretamente no porto. “Eu sequer conhecia um navio e não era algo que eu havia escolhido para aquele momento, mas nós, mulheres, não fugimos de nada, não é mesmo?”, brinca a jovem, que se apaixonou pelo ambiente da faixa portuária e hoje é responsável por realizar a escala de trabalho dos TPAs (trabalhadores portuários avulsos), fiscalizar as presenças e ocorrências e também atender os OPs (operadores portuários).
Mas nem tudo foram flores. A cultura masculina enraizada no ambiente portuário foi um desafio a ser vencido por Jamile, com muita paciência e empatia. “No início, foi bem difícil, pois os trabalhadores não aceitavam ser coordenados por nós, mulheres. A cultura que eles tinham de um ambiente onde só existiam homens foi mudando somente com o tempo, no dia-a-dia mesmo”, conta a assistente operacional.
A engenheira de segurança do trabalho Karla Alves Santos, 32 anos, concorda com a colega Jamile. Atuando diariamente no planejamento de ações de prevenção a acidentes e doenças do trabalho, Karla revela que a maior diferença sentida em sua rotina profissional pelo fato de ser mulher está na aceitação dos homens a uma liderança feminina. “Como mulher em uma posição de liderança, eu percebo que não conquisto o reconhecimento de forma automática. Preciso sempre provar minha competência antes de conquistar o respeito. Pela minha experiência, comparo que quando um homem é colocado como líder, ele já inicia no cargo com a confiança pré estabelecida, e pode perdê-la, dependendo das suas ações na equipe. Para a mulher, o processo é sempre o contrário, especialmente se a equipe é composta majoritariamente por homens”, explica a engenheira, que aposta no diálogo como forma de transpor essas barreiras.
Diretora executiva do Ogmo Paranaguá, a advogada Shana Carolina Bertol, 40 anos, lida diretamente com a gestão de pessoas e a resolução de conflitos relacionados ao trabalho portuário, funções que, como muitas mulheres, ela concilia com os papéis de mãe, esposa e filha. Para ela, independente do gênero, o respeito é alcançado com muito esforço, dedicação e estudo. Shana comemora o incremento cada vez mais sólido da participação feminina no setor portuário, especialmente em cargos de gestão e no cais do porto, mas destaca: “ainda temos muito espaço a ocupar”.
A diretora executiva ressalta a importância do Dia Internacional da Mullher como uma data de reconhecimento às mulheres que lutaram para que hoje todas possamos votar, estudar e trabalhar. Uma batalha que ainda é diária e que Shana não enfrenta sozinha. “As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança e chefia, muito embora tenham uma qualificação igual ou superior à dos homens. Assim como ainda não alcançamos a paridade salarial ao ocupar os mesmos cargos. Temos que continuar unidas e praticar a sororidade, pois ainda estamos longe de alcançar a equidade de gênero e só conseguiremos juntas”, conclui.
Ogmo Paranaguá
Responsável por conectar os operadores portuários aos trabalhadores, o Ogmo Paranaguá - Órgão de Gestão de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto de Paranaguá, entidade civil sem fins lucrativos, atua há 26 anos na administração do fornecimento de mão de obra avulsa aos trabalhadores portuários do Porto de Paranaguá, no litoral paranaense. Atualmente, o órgão gerencia cerca de 3 mil trabalhadores, representados por seis sindicatos laborais que atendem 28 operadores portuários, ofertando 274 mil oportunidades de trabalho no ano de 2020.
Com o propósito de apoiar o desenvolvimento do porto com qualidade e segurança, garantindo as melhores práticas tanto para os Operadores Portuários (OPs) quanto para os Trabalhadores Portuários e Avulsos (TPAs), o órgão busca a melhoria contínua da gestão de mão de obra e investe com frequência na modernização e inovação constantes de seus serviços, como a criação de ferramentas que facilitam o acesso dos TPAs às ofertas de trabalho a partir de critérios técnicos e de forma igualitária.
Presença feminina na TCP aumenta 1.955% nos últimos 20 anos
Antes considerado ambiente hostil para mulheres, a realidade do setor portuário mudou muito nos últimos anos. No Terminal de Contêineres de Paranaguá, a presença feminina entre os colaboradores cresceu 1.955% nos últimos anos, passando de 11 mulheres que ocupavam predominantemente funções administrativas, para 226 mulheres hoje que também ocupam posições operacionais, técnicas e de especialistas.
A gerente de Recursos Humanos, Thais Marques, afirma que os modelos modernos de gestão aliados à tecnologia favoreceram a inserção da mulher no segmento onde, por muito tempo, prevaleceu a mão de obra masculina. "Há 20 anos, a presença feminina era tímida. Hoje, as oportunidades são amplamente oferecidas e plenamente ocupadas com muito profissionalismo e competência, provando que não há limitações de gênero para quem busca desenvolvimento com seriedade e compromisso, seja a carreira que for", diz. Atualmente, aproximadamente 20% do quadro da empresa é ocupado por mulheres.
Testemunha da transformação que o setor passou nas últimas duas décadas, Lusinete Smek, coordenadora de Manutenção, começou a trabalhar na TCP aos 25 anos. Nascida em Medianeira, no interior do Paraná e recém-chegada em Paranaguá na época, viu na empresa uma oportunidade de crescimento.
Bacharel em Administração, casada e mãe de dois filhos, ela acredita que as mulheres estão avançando na conquista de seu espaço. "Aqui na TCP estamos avançando rápido, nossa CFO é mulher, contamos com mulheres na operação, logística, gerência, coordenação e operadoras de equipamentos de grande porte. Quando entrei na empresa, eu era a única mulher no setor. As demais estavam no administrativo e financeiro", lembra.
Quebra de paradigmas
Durante o período, várias barreiras foram transpassadas. Para a gerente de RH da TCP, Thais Marques, isso aconteceu pelo simples fato de que funções são e sempre serão para aqueles que querem ocupar e fazer um bom trabalho. "Paradigmas como sexo frágil com certeza foram mais do que quebrados. Temos exemplos reais de mulheres extremamente corajosas e altamente comprometidas, demonstrando profissionalismo acima do gênero e comprovando o valor dos perfis que complementam e geram sinergia na execução das rotinas", afirma.
Lusinete conta que, no começo, encontrou dificuldades e que foi preciso persistência. Um dos principais obstáculos foi a discriminação cultural e o medo. "Mas, foi amor à primeira vista, me apaixonei pelo terminal. Tudo aqui é gigante, navios, equipamentos, pilhas de contêineres. A satisfação em trabalhar aqui é bem maior do que as barreiras", avalia.
Para ela, a inserção da força feminina no ambiente portuário é necessária e justa, uma vez que as mulheres são capazes, competentes e contribuem muito para o mercado de trabalho. Comparando a realidade do setor hoje e de quando começou, ela afirma que existe muito menos preconceito e que as diferenças estão diminuindo visivelmente.
Na sua avaliação, atualmente as oportunidades são ofertadas de forma natural, independente do gênero. "Devemos às mulheres fortes que lutaram para mudar isso, encorajando outras e provando que são capazes e preparadas, e aos homens fortes e esclarecidos que nos apoiaram".
Na avaliação de Thais Marques ainda há espaço para mudança e, para isso, é necessário reforçar que o valor está na competência e que perfis masculinos e femininos se complementam, não há espaço para estigmas de que um gênero é melhor que outro. "Estimular em nossas relações o respeito pela diversidade, especialmente valorizando a competência técnica das pessoas, independentemente de serem homens ou mulheres. Podemos promover relações colaborativas, não apenas nas relações profissionais, mas especialmente nas relações pessoais, pois um dos principais desafios da projeção das mulheres no mercado de trabalho ainda são questões de ordem pessoal, como responsabilidades domésticas herdadas como sendo papel da mulher", avalia.
Na TCP, 100% das oportunidades são ofertadas sem restrição de gêneros. "Estimulamos o ingresso das mulheres em diferentes processos e percebemos hoje o encontro de gerações de mulheres, que só faz aumentar a procura e engajamento desse público no terminal".
Rotina diária
Em um setor com 114 pessoas, onde oito são mulheres, Lusinete lidera uma equipe de 27 pessoas. A rotina de trabalho é intensa: gestão do time infraestrutura elétrica, reefer e suporte, frentes de trabalho diferentes que exigem muito. Entre as tarefas, ela é responsável por distribuir as atividades, planejar, garantir a execução, recursos e qualidade, além de acompanhar projetos e melhorias.
Apaixonada pelo trabalho, a coordenadora diz que o Terminal "é parte da minha história, do meu registro da sua vida" e reconhece o empenho da equipe formada por 'ótimos profissionais' e com quem construiu 'uma relação sólida de respeito e confiança'.
Em homenagem ao Dia da Mulher, Intermodal South America lança o especial Mulheres na Logística
A busca por igualdade de gêneros é uma luta constante vivida pelas mulheres de todo o mundo. No Brasil não é diferente: a procura por espaço e reconhecimento pelas realizações e potencialidades é contínua. O que também ocorre no tão disputado mercado de trabalho, em que, cada vez mais, a presença feminina é uma realidade. Segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, a participação feminina no mercado profissional já chega a 49,9%, ou seja, metade dos postos de trabalho já são delas.
"O setor da logística segue na mesma direção e a presença feminina neste mercado só aumenta, correspondendo à demanda por profissionais cada vez mais capacitados. Em todos os elos da cadeia de suprimentos e da logística, a atuação das mulheres ganha cada vez mais destaque", afirma Hermano Pinto Jr., diretor do portfólio de infraestrutura da Informa Markets, organizadora da Intermodal South America - a maior feira internacional de logística, transporte de cargas e comércio exterior da América Latina.
Por conta disso, para prestar sua homenagem a essas profissionais, que marcam e fazem a diferença no setor da logística, do transporte de cargas e do comércio exterior em geral, a Intermodal South America lança, em março - quando comemora-se o Dia Internacional da Mulher - uma série especial de conteúdos voltados exclusivamente a elas, o Mulheres na Logística, que trará histórias e experiências inspiradoras de como o olhar feminino transforma o setor no dia a dia.
O especial contará com a participação de reconhecidas profissionais e trará conteúdos inéditos ao longo do mês, com artigos, depoimentos em vídeo e entrevistas. A série tem seu grande momento no dia 25/03, com a realização de um webinar programado para ocorrer das 9 às 19 horas, e que contará com a presença de nomes do setor cuja atuação à frente das empresas vêm marcando a história da logística no País.
Entre os temas em pauta no webinar estão "Inspirando Pessoas e Transformando Negócios: A Trajetória até a Liderança"; "Potencializando a Experiência do Cliente através do Last Mile"; "Mulheres Inovadoras, Negócios Inovadores"; "Intralogística: Os 10 Mandamentos para uma Gestão Operacional Eficiente" e "Incentivando na Prática a Diversidade no Mundo Corporativo".
Serviço:
Webinar: Mulheres na Logística
Quando: 25/03/2021
Horário: Das 9 às 19 horas
Mais Informações: bit.ly/2ZV1Vv6