Para se desenvolver e atrair mais cargas, é comum os portos reforçarem suas ações comerciais e expandir a infraestrutura. O complexo marítimo de Gante, o terceiro mais importante da Bélgica, planeja aporte de € 1,8 bilhão (R$ 6,9 bilhões) para modernizar suas instalações nos próximos 25 anos e busca estar cada vez mais próximo de seus clientes.
Mas sua estratégia de crescimento vai além. A partir de 1º de janeiro de 2018, ele irá se fundir ao principal concorrente, o Porto de Zeeland, nos vizinhos Países Baixos. Questionado sobre o motivo de ter adotado essa medida, o presidente da Autoridade Portuária, Daans Schalck é direto: “é essencial para continuarmos crescendo”.
Os planos de desenvolvimento de Gante foram apresentados por Schalck a empresários e autoridades do Porto de Santos ontem, quando o grupo esteve no complexo marítimo. A comitiva brasileira iniciou uma série de visitas a portos da Bélgica. Nesta quinta-feira (28), o destino será Antuérpia, o principal do país, e na sexta-feira (29), último dia da programação, Zeebrugge.
A viagem aos complexos belgas complementa a programação da 15ª edição do Santos Export 2017 – Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos, realizada pelo Grupo Tribuna e pela Una Marketing de Eventos no início do mês, na Cidade.
A comitiva se encontrou com dirigentes e representantes da Autoridade Portuária de Gante, além de executivos de agências marítimas e operadores logísticos que atuam na região, a bordo de uma embarcação, que percorreu parte do canal de navegação.
O complexo está localizado no interior da Bélgica e liga-se ao Mar do Norte por um canal artificial de 32 quilômetros – 17 deles nos Países Baixos e 15 na Bélgica. Zeeland está no início dessa via de navegação.
O presidente da Autoridade Portuária, Daans Schalck, disse que a fusão dos portos envolve a formação de nova autoridade portuária, que controlará os complexos, mas terá dois CEOs (principal executivo).
Nesse cenário, os parceiros – hoje concorrentes – vão ganhar, assegura. “Precisamos de mais áreas para continuar crescendo e aumentar nossa capacidade de carga. Percebemos que o Porto de Zeeland pode nos garantir isso. Vamos unir esforços, integrar nossas atividades e operações e nos tornar mais fortes e, como consequência, capazes de fazer mais negócios, atrair mais cargas e mais operações”.
Pela proposta, que foi idealizada no início do século, apresentada oficialmente em 2016 e que deve ser aprovada em 8 de dezembro para entrar em vigor no início do próximo ano, a nova autoridade portuária será controlada pelos atuais acionistas de Gante e Zeeland. Os dois apresentam modelos de gestão semelhantes, sendo administrados por companhias autônomas municipais.
Tendência nos portos
Schalck explicou que o porto belga conta com apenas 300 hectares (três quilômetros quadrados) de área de expansão. “E precisamos de mais para atrair mais terminais. Essa fusão com Zeeland é algo bem inédito. Nos últimos anos, apenas Malmo (Suécia) e Copenhague (Dinamarca) fizeram isso. Mas acredito que seja a próxima tendência no setor portuário”, afirmou o executivo lembrando que tais unificações têm ocorrido nos setores de navegação e entre operadores.
Schalck e a gerente comercial de Gante, Sandra De Mey, destacaram o plano de investimentos em infraestrutura do complexo.
O principal projeto, avaliado em € 900 milhões (R$ 3,37 bilhões), é a construção de uma nova eclusa no acesso a uma parte do canal para permitir o acesso de navios pós-panamax de até 120 mil toneladas (com calado de 16 metros). Hoje, os maiores cargueiros a escalar no porto são os panamax de 92 mil toneladas (calado de 12,5 metros).
A obra será entregue em 2022 e, na sequência, serão feitos o aprofundamento do canal e a elevação de pontes, o que deve levar até 20 anos e custar mais € 900 milhões, permitindo o acesso de embarcações maiores.
Fonte: A Tribuna, 28/9/2017.