Em troca de apoio político na reforma da Previdência, o governo vai indicar o ex-senador paraense Luiz Otávio Campos (PMDB), envolvido na Lava-Jato, para o cargo de secretário nacional de Portos, vaga criada na reestruturação do organograma do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil.
Campos foi alvo de mandado de busca e apreensão da "Leviatã", fase da operação Lava-Jato deflagrada em fevereiro deste ano. De acordo com o delator Flavio David Barra, ex-presidente da Andrade Gutierrez Energia, Campos seria um dos designados do PMDB para recolher a cobrança de propinas. A Polícia Federal encontrou na casa dele R$ 135 mil em espécie.
Também foi alvo da "Leviatã" o executivo Márcio Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA) e presidente da Brasilcap empresa de capitalização cujo maior acionista é o Banco do Brasil.
Pelos relato feito por Flavio Barra, em 2014 Edison Lobão teria avisado Barra "que o intermediário do recebimento de vantagens indevidas destinadas ao PMDB não seria mais Márcio Lobão, mas sim Luiz Otávio Campos", de acordo com um dos trechos da delação.
A mudança de interlocutor teria ocorrido devido à negativa das empresas de pagarem um aditivo contratual de 5%. A questão foi resolvida, de acordo com Barra, que contou também ter apresentado Campos aos representantes das demais empresas integrantes do consórcio construtor de Belo Monte. O Valor não conseguiu contato com o ex-senador Luiz Otávio Campos até o fechamento desta edição.
À época dos fatos, Márcio Lobão, que continua no comando da Brasilcap, negou qualquer ilícito e disse desconhecer os motivos para ser alvo da ação. O senador Edison Lobão não quis comentar na ocasião.
A indicação de Campos é cacifada pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e por outros senadores do partido. Campos já foi secretário-executivo do filho de Jader, o ministro da Integração Nacional Helder Barbalho. A portaria com a nomeação de Campos estava pronta e poderia ser assinada ainda ontem pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
A indicação de Campos para o ministério, comandado por Maurício Quintella (PR-AL), acentua a quebra de braço entre o PR e o PMDB na pasta. A determinação desagradou o ministro Quintella, informado da indicação por um telefonema na tarde de ontem, apurou o Valor.
Fonte: Valor Econômico, 11/4/2017.