Sem as amarras políticas, Codesp quer se modernizar
Deixar de ser tratado como o maior porto da América Latina para se tornar o melhor porto da América Latina. Com um objetivo nada fácil, o engenheiro naval Casemiro Tércio Carvalho assumiu, no fim de fevereiro, o comando do porto de Santos. Ex-presidente da Docas de São Sebastião e da Hidrovia Tietê-Paraná, entre 2011 e 2017, e ex-sócio fundador da Garin Investimentos, Tércio conta que aceitou a presidência da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) com a "porteira fechada". Ou seja, com carta branca para indicar toda a diretoria e implementar um amplo plano de modernização da estatal com base em três eixos, que incluem corte de custos internos e demissões, revisão de contratos e novas concessões.

Para compor sua equipe, o executivo está trazendo do mercado Jennyfer Tsai, engenheira civil, para a diretora de Engenharia; Danilo Veras, graduado em direito, como diretor de relações com o mercado e comunidade; Fernando Biral, administrador de empresas, para a diretoria financeira e de administração; e Marcelo Ribeiro de Souza, oficial superior da Marinha do Brasil, como diretor de operações.

Os tempos de ingerência política ficaram no passado, garante o presidente. Assim como o uso de paletó e gravata. "O paletó e gravata afasta as pessoas", brinca o paulistano de 41 anos que se mudou agora para Santos. O fim da gravata é o símbolo do início de um processo de abertura interna na Codesp. Ouvir as pessoas nesse momento, destaca o presidente, é fundamental para conhecer o que acontece no dia a dia da empresa, que sempre foi área de influência política.

Arrumar a Codesp por dentro, com corte de custos, é justamente o primeiro eixo do plano de Tércio. A empresa tem 1,3 mil funcionários diretos e 900 indiretos. "É uma máquina muito inchada", diz. O plano do presidente é reduzir em 50% esse total e o primeiro PDV já está sendo preparado. Ele diz que pelo menos 400 funcionários já estariam prontos para se aposentar e, deste total, 200 esperam apenas que o Portus, fundo de previdência complementar dos funcionários das docas, resolva um rombo de R$ 3 bilhões que quase o levou a falência para se aposentarem.

Outra forma de reduzir a folha de pagamento é a renegociação dos contratos de serviços que Tércio qualificou de "inchados", como os de limpeza, motoristas e veículos e manutenção predial. Isso levaria a uma redução nos 900 funcionários terceirizados.

Mas a velocidade no corte de pessoal vai depender de a companhia obter recursos para bancar esse desligamento. E a principal fonte seria as outorgas dos futuros arrendamentos de áreas no porto. "Se eu conseguir caixa em 2019 com as novas concessões, consigo atingir os 50% em dois anos."

Além do corte de funcionários, Tércio quer mexer com a cultura da companhia, implantando regras de compliance e transparência. Ele diz que grande parte do efetivo tem 30 a 35 anos de casa e "essas pessoas não mudam a cultura". "Temos de retomar a meritocracia e criar regras para que as futuras diretorias não danifiquem o que já foi feito." Tércio promete criar uma estrutura que permita a qualquer funcionário se posicionar sem medo de ser punido. "Temos identificado pessoas que foram escanteadas por se recusaram a assinar um contrato."

O segundo eixo é o arrendamento de terminais existentes e a exploração de novas áreas para geração de recursos. São quatro áreas a serem arrendadas e a relicitação do terminal de contêineres da Libra. A direção da Codesp ainda não tem a estimativa de quanto pode arrecadar em outorga com as quatro áreas: STS-10, STS-13A, STS-20 e o berço 14/15. O investimento estimado é de R$ 500 milhões. "A outorga vai depender da concorrência. Se tiver disputa sobre o mesmo terminal, a outorga vai subir", afirma Tércio. A expectativa é licitar essas áreas ainda neste ano.

Já a relicitação do terminal de Libra é um processo mais complicado e levaria pelo menos um ano. Em recuperação judicial - os credores reprovaram o último plano apresentado -, a Libra perdeu na câmara de arbitragem uma disputa bilionária de duas décadas contra a Codesp. O contrato do terminal termina em maio de 2020, mas Tércio acredita que o ativo seja entregue antes. A Codesp começou a conversar com os três armadores que usam o terminal - CMA CGM, Cosco e Evergreen - a formação de um pool para administrar a área.

"O melhor cenário de transição é não perder esses armadores para outros portos. A ideia é que eles assumam até resolver esse imbróglio jurídico. Mas temos de saber, por exemplo, se o TCU [Tribunal de Contas da União] permite. Preciso saber se não estou infringindo alguma regra constitucional. Se não existem pendência ambientais ou passivos trabalhistas. Dar segurança jurídica aos armadores. O importante é manter essa carga em Santos, os postos de trabalho e os equipamentos funcionando para não sucatearem", afirmou.

Buscar novas áreas, no fundo do estuário, perto do porto da Usiminas, já no Cubatão, permite ampliar o porto nos próximos dez a 15 anos. Tércio acredita que isso vai valorizar e viabilizar uma possível abertura de capital da Codesp no futuro.

A terceira parte do plano de modernização é um amplo programa de concessão do que Tércio classifica como "conceder o que não faço bem feito e estou cobrando caro por isso". O primeiro e principal contrato de concessão é o do canal de navegação e vai além da dragagem. Inclui, entre outros, o balizamento (com boias físicas e digitais), monitoramento ambiental, plano de contingência e controle e gestão de tráfego. Atualmente existem sete contratos distintos para realizar todos esses serviços. A empresa contratada receberá pelo volume de carga que passa pelo canal, por um tempo bem mais longo que os contrato atuais.

No ano passado o porto de Santos movimentou 133,2 milhões de toneladas e a previsão é chegar a 136,4 milhões neste ano.

"A empresa vai fazer a operação. Quem manda na gestão do canal é a Codesp. Não preciso ter equipamento nem gente. Apenas a última pessoa para tomar a decisão", afirma. Tércio acredita que apenas consórcios com multinacionais estarão preparados hoje para disputar uma concessão desse porte. O documento para consulta pública deve ficar pronto até o fim do ano.

Modelo semelhante será adotado para as perimetrais da margem direita e esquerda, com construção de algumas obras de arte, duplicação de vias, reordenamento urbanístico e separação da ciclovia. Nesse caso não interessa a cobrança de outorga, mas melhorar o fluxo dos veículos com o menor custo tarifário.

Ao fim desse processo, Tércio quer uma Codesp menos operacional e mais regulatória. E preparada para ir à B3. "A abertura de capital consolidaria um sistema de governança que não permitira a volta da ingerência político-partidária na empresa." Porém, desde já, o executivo diz que o objetivo é ter uma marca mais internacional para o porto. Ao invés de Codesp, usar Autoridade Portuária de Santos, mais fácil de ser entendida no exterior.

Fonte: Valor, 19/03/2019.

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