Um ano de limbo regulatório
Enquanto o Brasil sucumbe às disputas políticas, o desemprego não para de crescer, a economia segue na inércia e o setor portuário está, há um ano, à espera de regulação mais precisa para destravar investimentos de R$ 25 bilhões, previstos com a edição do Decreto dos Portos (9.048/2017). A questão é mais simples do que pode parecer e, em última análise, nada tem a ver com o processo político e de judicialização que alvejou o decreto após denúncias que devem andar separadas da questão central: o setor precisa de regras mais claras para fugir das amarras burocráticas impostas pela legislação antiga e assim, atrair novos investimentos e apoiar o crescimento da economia.

O texto do decreto, elaborado por Grupo de Trabalho do Ministério dos Transportes, deriva de consulta ampla e transparente com a contribuição de entidades empresariais portuárias, responsáveis pelo escoamento de 100% das cargas movimentadas no País. Apesar de todo esse esforço conjunto, os efeitos desse novo instrumento legal ainda são imperceptíveis por conta dos questionamentos feitos e sem decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação a pontos específicos do texto. Os questionamentos são pontuais e legítimos, mas travam a assinaturas de contratos e avanços do setor.

O Brasil necessita de crescimento econômico, sustentável e progressivo, e não pode se dar ao luxo de esperar. Para o crescimento econômico do país, é imperioso ter portos modernos, aptos a escoar com segurança e agilidade a produção nacional e a receber os produtos importados de nossos parceiros comerciais.

A despeito da regulação pendente, o setor portuário apresenta sucessivas mostras de vigor, impulsionando um País que se tornou líder na exportação de commodities. Registramos um aumento de 8,3% na movimentação portuária em 2017 em comparação com 2016, movimentando 1,086 bilhão de toneladas. A retração econômica não impediu o padrão de crescimento chinês do setor portuário. Os terminais de uso privado movimentaram 721,6 milhões de toneladas em 2017. Em 2016, a movimentação tinha sido de 660 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 9,3%. Já os portos públicos apresentaram crescimento de 6,3%, registrando uma movimentação de 364,5 milhões de toneladas.

A movimentação de contêineres aumentou em todos os quesitos analisados, seja em peso (tonelagem) ou em volume (TEUs). Foram movimentados 106,2 milhões de toneladas (valor 6,1% superior ao registrado em 2016), transportadas em 9,3 milhões de TEUs (aumento de 5,7%). Dois dos mais representativos produtos do agronegócio - milho e soja - apresentaram um crescimento de movimentação de 71,8% e de 31,5%, respectivamente, na comparação 2017/2016Foram movimentadas 695,4 milhões de toneladas de granel sólido (incluindo minérios) e 230,2 milhões de toneladas de granel líquido. Neste quesito, de acordo com levantamento feito pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a importação de derivados de petróleo aumentou 32%, enquanto a exportação de petróleo bruto aumentou 19%.

Mais de 90% dos produtos importados e exportados pelo Brasil passam por nossos portos. Desde o sal de cozinha presente na vida dos brasileiros até os elaborados produtos eletrônicos que seduzem nossos adolescentes. Esses números tornam-se ainda mais expressivos se levarmos em conta que o País ainda sofre com os efeitos da recessão.

Os números exitosos escondem as deficiências, mas deixam clara a capacidade do setor, de ser ainda maior, de gerar ainda mais empregos e renda num País que está numa recessão perigosa. Para a produção nacional chegar aos portos de destino é preciso vencer os diversos problemas de infraestrutura e déficits em nossas malhas viária e ferroviária. A regulamentação do decreto dos portos sinalizará aos investidores que o País oferece segurança jurídica crucial para atrair capital nacional e estrangeiro.

Especialistas insistem que a retomada do crescimento global e a manutenção do PIB da China em patamares já conhecidos movimentará uma nova onda de capitais disponíveis para empreendimentos promissores, lucrativos e, sobretudo, seguros. Na história recente brasileira, testemunhamos a capacidade do País em ser polo de atração destes recursos. Enquanto a segurança jurídica e a previsibilidade nas regras forem apenas utopia, seremos historicamente recorrentes: em tempos de bonança, o Brasil é atraente; na escassez, desperdiça oportunidades.  Que país pode se dar ao luxo de viver de sazonalidades?

Fonte: ABTP, por José Di Bella - Diretor presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários  - 10/05/2018.

Read Also Other News

Agência Porto
| 09 mai, 2025

Governo quer leiloar ferrovia EF-118 ainda neste ano, diz ministro

Read more
Agência Porto
| 09 mai, 2025

Nova rota marítima entre Brasil e China pode reduzir custos logísticos em 30%

Read more
Agência Porto
| 09 mai, 2025

Porto de Itajaí ganha nova linha com conexão ao Mercosul

Read more

How can we help?

Tell us how we can help with one of our services and solutions.

Request a quote

This website uses cookies to personalize content and analyze website traffic. Meet our Privacy Policy.